Leandro Montoya adorava a vida ao ar livre, melhor ainda se fosse sobre duas rodas. Cultivava grande apreço por uma moto inteirinha modificada que ele havia construído com suas próprias mãos.
- Cara, essa é a minha Harley, não há outra igual no globo terrestre - e seus olhos marejavam.
Tudo bem que às vezes ele tinha que fazer a envenenada pegar no tranco mesmo, mas isso era o de menos – “ela faz um charme, mas é mansa. Com as mulheres você tem que ser paciente, meu chapa”.
Nos finais de semana ele se juntava a um grupo de motociclistas evangélicos, passavam o tempo cantando seu hino extra-oficial, ‘Jesus numa moto’, aquela mesmo, do Zé Rodrix. Até aí, sem problemas. O negócio engrossava quando ele queria provar pra você que as músicas do Steppenwolf tinham um apelo gospel:
- Heavy metal thunder é o chamado do senhor, tá na cara!
De uns tempos pra cá ele tem andado triste, seu segundo grande amor, uma pequena nipo-brasileira, foi tentar a sorte na terra de seus avós – um ano separados. Ele suportou bem por um longo período, até que faltando um mês pra ela voltar, as aparições começaram. Noite após noite o Nelson Rodrigues passou a surgir em seus sonhos dizendo com aquela sua voz característica:- Ela fugiu com o ladrão boliviano! – e na noite seguinte ele voltava.- O ladrão boliviano!
De tão preocupado ele resolveu perguntar a ela, pelo computador, onde se comunicavam por texto:
- Escuta, não tem aí entre vocês nenhum boliviano, tem?
- Aqui? Não... Bom, tem o Juan, mas ele é panamenho.
- É tudo a mesma coisa! Fica longe dele, bem longe, promete?
Ficou tão paranóico que foi pedir ajuda ao seu pastor. Este, que havia se graduado em psicologia familiar assistindo todas as noites o programa daquele bispo que deve ter uma sede danada, pois vive pedindo pra você apanhar um copo d’água pra ele, mandou ver no verbo:
- Isso aí é só um peso na sua consciência, a sensação de falta, essa insegurança é normal, eu, por exemplo, passei noites inteiras sendo visitado pelo Charles Bronson.
- E como você se curou?- Não me curei, virei pastor.
- E ele te dizia alguma coisa?
- Não, sabe como é o Charles, ele quase nem fala.
- Sei.
Na noite anterior a chegada de sua amada, ele dormiu tranqüilo. Manhã, ele apanha sua moto e segue até o aeroporto. O coração trepida. O avião aporta, ele avista do saguão de desembarque as pessoas descendo a escada da aeronave, chega à hora dela descer. Qual a sua surpresa quando ele não vê junto a ela – o ladrão boliviano! Ele entra em choque, quer desmaiar, morrer, só que neste instante: quem entra correndo pela pista de pouso, com um revolver na mão, fugindo do controle de pista? Sim, ele, Charles Bronson, sem pestanejar ele rola pelo chão e acerta dois tiros no peito do ladrão boliviano, em seguida, arma uma das mais inesquecíveis escapadas da história, deixando dúzias de seguranças brutamontes a mingua. Antes de ir, ainda faz a Leandro um discreto sinal com a cabeça. Neste instante, ele acorda. Suado, cansado, porém feliz.
Cinco noites depois o telefone do pastor toca em plena madrugada. É a voz de Montoya, em soluços:
- O que você pediu a ele?
- A ele quem? Calma Leandro, você está nervoso. O que eu pedi a quem?
- Ora, você sabe muito bem, você pediu um favor a ele, por isso ele agora não sai mais dos sonhos. Diga, o que foi que você pediu?
- Meu Deus! Ele... Você... Você está sonhando com ele?
- Há cinco noites seguidas... Cinco noites... Não estou agüentando mais. Você é a única pessoa que pode me ajudar, o que eu devo fazer?
-Bem, primeiro pegue um copo d’água...
*Este conto foi escrito pelo amigo e colega de faculdade Felipe Augusto "Horlá" em meados de 2005, quando a Joice estava no Japão e não raras vezes este era o assunto em nossas rodas de conversa.
2 comentários:
Muito bom!!!!
o ladrão boliviano!!!
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